Pediu a seu deus, ou ao Deus dos cristãos, ou a qualquer outro que estivesse de plantão, que a levasse a um lugar seguro. Alguns momentos - ou horas - mais tarde, quando as dores pareciam rasgá-la ao meio, encontrou-se no centro de uma clareira. Milagrosamente, o lugar parecia pronto a recebê-la: havia um pequeno curso d'água que formava uma piscina natural, rasa e limpa, havia o abençoado silêncio apenas ponteado pelo barulho dos animais da floresta; havia a sensação de estar em segurança, proporcionada especialmente por uma árvore de porte médio que parecia irradiar uma luz semelhante a do sol.
terça-feira, 17 de junho de 2008
TJAIRA
Pediu a seu deus, ou ao Deus dos cristãos, ou a qualquer outro que estivesse de plantão, que a levasse a um lugar seguro. Alguns momentos - ou horas - mais tarde, quando as dores pareciam rasgá-la ao meio, encontrou-se no centro de uma clareira. Milagrosamente, o lugar parecia pronto a recebê-la: havia um pequeno curso d'água que formava uma piscina natural, rasa e limpa, havia o abençoado silêncio apenas ponteado pelo barulho dos animais da floresta; havia a sensação de estar em segurança, proporcionada especialmente por uma árvore de porte médio que parecia irradiar uma luz semelhante a do sol.
E então você já pensou em passar a noite comigo?
Como seria?
Irmãozinhos, trocando confidências
Ou tórrida paixão explodindo?
Pensou em seu corpo e o meu colados
Suados
Lassos...
Ou preferiu pensar em nós tratando de filosofia
Antroposofia
Transcendência da alma
Ou coisa assim?
Dá quase pra ver seu riso
E ouvir sua voz me chamando de ousada...
Talvez tenha pensado em uma noite mais calma
Em que se misturassem
Conversas
Murmúrios
Confidências
A beijos com sabor de eu-você
E marcas indeléveis e invisíveis a olho nu.
PORQUE TE GOSTO
Há algo de infinitamente doce no som do teu riso.
Talvez a inocência perdida em algum momento no tempo,
Talvez o gosto acidamente doce da maçã,
Ou o beijo que nunca partilhamos...
Talvez o brilho do luar, refletido nos olhos,
Ou o cheiro...
Talvez meu corpo saiba, sem jamais ter sentido,
Como teu corpo se ajusta às minhas curvas,
Teu sólido em meu líqüido,
Teu concreto em meu espaço abstrato...
Talvez não seja nada disso
E seja apenas tesão...
...mas talvez seja amor...
CANTIGA
Ela se veste de branco
E dança à luz do luar.
Ele não sabe e canta
Cantigas do só.
Ela o espera a noite inteira
Ele olha a lua sorrindo.
Ela o chama de amor,
Ele, de amiga querida.
Ela esconde sua dor,
Ele a faz sem sentido.
Ela é mulher,
Ele é só um menino.
PARADOXAL
Teu querer te conduz ao meu abraço,
Mas teu medo te impede de voar.
leve, livre no ar, solta no espaço,
te atraio como a lua atrai o mar.
Incongruente, teu desejo pelo toque
Pelo gosto, pelo cheiro da minha pele
Te dói como ferida aberta e calcinada.
O que mais te atrai em mim, mais te repele:
minha confessa liberdade e despudorada entrega.
Quiseras ser meu dono, mas não o quiseras
Porque se o fosses eu teria deixado de ser eu
e deixarias de desejar-me.
Teu desejo baseia-se no não ter-me,
no ter nunca certeza alguma a meu respeito
exceto o momento em que entre soluços, palavras e espasmos desconexos
teu sexo encontra-se em meu sexo
domingo, 15 de junho de 2008
Poeta de gaveta
Meu verso já não cabe no papel.
Extrapolou.
E, sem pedir licença,
Foi procurar o seu lugar no mundo.
Eu, poeta de gaveta,
Fiquei vendo meu verso partir
Sem saber se voltaria
Se voltará...
Fiquei presa ao papel em branco
Morrendo de medo
E com vontade de ir também. (25/15/2006)
Metapoema
Faço versos porque quero falar
E a minha fala
É tão subjetiva e impulsiva
Que nela se podem refletir mil vozes
Que se calam.
Faço versos em meu nome, apenas.
Ainda que
Indefinidamente
Uma outra mulher neles se espelhe alguma vez.
Faço versos pra falar de amor
- o meu amor –
Meu medo e minha solidão
Minha luxúria...
Faço versos enfim porque
Não há como calar
O grito agoniado da loba
Em noites de luar.