quarta-feira, 17 de junho de 2009

tempo

o tempo corrói lembranças? Talvez apenas as modifique para que, ainda que levemente, possam ser reconhecidas e ao mesmo tempo possam ser repaginadas.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

POETA DE GAVETA

Meu verso já não cabe no papel.
Extrapolou.
E, sem pedir licença,
Foi procurar o seu lugar no mundo.
Eu, poeta de gaveta,
Fiquei vendo meu verso partir
Sem saber se voltaria
Se voltará...
Fiquei presa ao papel em branco
Morrendo de medo
E com vontade de ir também.

REJUVELHESCER

O poeta ouviu a palavra
“rejuvelhescer”.
testou-a na ponta da língua
de olhos fechados para sentir-lhe
o sabor.
Aspirou-a delicada
e profundamente.
O poeta
sentiu a palavra na pele
e decidiu que era
rejuvelhescendo
que ele seria
eterno.

(Para Aclyse de Matos e Lorenzo Falcão, em 31/07/2005)

METAPOEMA

Faço versos porque quero falar
E a minha fala
É tão subjetiva e impulsiva
Que nela se podem refletir mil vozes
Que se calam.
Faço versos em meu nome, apenas.
Ainda que
Indefinidamente
Uma outra mulher neles se espelhe alguma vez.
Faço versos pra falar de amor
- o meu amor –
Meu medo e minha solidão
Minha luxúria...
Faço versos enfim porque
Não há como calar
O grito agoniado da loba
Em noites de luar.

CANTIGA

Ela se veste de branco
E dança à luz do luar.
Ele não sabe e canta
Cantigas do só.
Ela o espera a noite inteira
Ele olha a lua sorrindo.
Ela o chama de amor,
Ele, de amiga querida.
Ela esconde sua dor,
Ele a faz sem sentido.
Ela é mulher,
Ele é só um menino

PARADOXAL

Teu querer te conduz ao meu abraço,
Mas teu medo te impede de voar.
leve, livre no ar, solta no espaço,
te atraio como a lua atrai o mar.
Incongruente, teu desejo pelo toque
Pelo gosto, pelo cheiro da minha pele
Te dói como ferida aberta e calcinada.
O que mais te atrai em mim, mais te repele:
minha confessa liberdade e despudorada entrega.
Quiseras ser meu dono, mas não o quiseras
Porque se o fosses eu teria deixado de ser eu
e deixarias de desejar-me.
Teu desejo baseia-se no não ter-me,
no ter nunca certeza alguma a meu respeito
exceto o momento em que entre soluços, palavras e espasmos desconexos
teu sexo encontra-se em meu sexo
e nossos olhos, em algum ponto do infinito.

ENIGMA

Não sou mulher
De um homem só:
Sou mulher só
De um homem.
Sou mulher
Só.